“Quando você toma a decisão de fazer o que ama, aguenta a pressão em todos os momentos”. Confira como foi a live com o Alisson Cerutti!
Valorizar o trabalho em equipe. Acreditar no trabalho que desenvolve. Amar o que faz. Trabalhar a tomada de decisão, os diálogos. Persistir mesmo diante das dificuldades. Parece papo de empreendedor, não parece?
E é, mas por um viés diferenciado. As frases acima são lições valiosas deixadas pelo campeão olímpico do Vôlei de Praia, Alisson Cerutti. Capixaba, o Mamute, como é conhecido no mundo do esporte, bateu um papo super bacana com os espectadores do Youtube do Findeslab na última sexta-feira (04).
A live marcou o Happynova, o fechamento dos 15 dias de desenvolvimento de soluções para o Desafio Inova VM, a maratona de inovação para a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), uma parceria entre o hub de inovação da indústria e a Vale.
A conversa foi mediada pela gerente de Inovação do Senai ES, Naiara Galliani, e o articulador para inovação do Senai ES, Iomar Cunha, e provou que o esporte e o empreendedorismo são universos com muitos denominadores comuns.
“Nós trouxemos o Alisson porque o atleta olímpico, todo atleta, precisa ter muita consistência. E isso também deve acontecer em todas as profissões. Precisa ter muita garra e muita persistência”, explicou Naiara no início da live.
Alisson contou sobre a sua trajetória. A tomada de decisão, aos 17 anos, de se tornar um atleta profissional. O início em dividir o esporte com a faculdade de Administração. E em como chegou ao mais alto patamar do esporte, ao conquistar a medalha de ouro em sua modalidade nas Olimpíadas Rio 2016, pouco mais de uma década depois. Antes disso, em 2012, o atleta conquistou uma medalha de prata nas Olimpíadas de Londres, na Inglaterra.
Mamute também compartilhou como nunca desistiu de seus sonhos mesmo diante das adversidades. “O mais importante de tudo, na minha opinião, é você acreditar. Se você acredita, está 40% a 50% na frente de quem não acredita. Se começa a fazer um trabalho, precisa acreditar nele”, apontou Alisson.
O campeão também ressaltou a importância do trabalho em equipe.
Confira os principais trechos:
Trabalhe o seu psicológico
Até 2009, eu era um atleta que tinha muita garra, muita vontade, mas pecava em momentos de decisão final. Em 2010, comecei a trabalhar com a Sâmia, minha psicóloga esportiva, e o Emanuel, minha dupla na época. Eu jogava ao lado de um cara que, para mim, é o maior jogador de vôlei de praia do Brasil e eu era um garoto novo, jogando ao lado de um atleta que eu sempre quis jogar. Mas eu não sabia como comandar esse time ou ser comandado por um atleta que eu assistia na televisão quando criança e que era mais experiente do que eu. Começamos a trabalhar a tomada de decisão dentro e fora de quadra. O ano de 2010, foi de muita oscilação de resultado. O ano de 2011 foi o primeiro no pós trabalho psicológico e foi quando ganhamos tudo como parceria, Circuito Mundial, Copa do Mundo, classificamos para as Olimpíadas um ano antes, fomos campeões panamericanos, brasileiro. O ano 2012 foi um ano Olímpico. A psicologia esportiva faz total diferença para mim. É algo que acredito e fiz esse trabalho em todos os ciclos olímpicos. Ela me ajuda no dia a dia, na tomada de decisão, no que fazer, como fazer e a entender o momento que estou vivendo, aos 35 anos, mais experiente, top five do mundo. E a psicologia, a terapia, é essencial na vida do ser humano. As pessoas tendem a achar que é para pessoas doentes, mas pelo contrário. Você sempre tem que buscar se reinventar, se conhecer, se entender para que possa estar sempre preparado para o momento certo e a hora certa.
Faça o que ama
A primeira coisa que você precisa para lidar com a pressão, é fazer o que você ama. Você só vai aguentar a pressão quando estiver fazendo o que ama. Porque na hora que você for questionar alguma coisa, verá que no fundo você não tem saída porque ama aquilo. A partir do momento que você entra em um projeto porque ouviu falar que vai ganhar bem, porque ouviu falar que vai ter mais férias, que você ouviu falar ou procurou saber que isso vai ter dar mais um tempo com a família, isso uma hora te cobrar e você vai se sentir pressionada. Quando você toma a decisão de fazer o que ama, você aguenta a pressão em todos os momentos.
Seja diferenciado
Quando eu recebi a proposta de jogar com um atleta campeão que morava no Rio de Janeiro, fiz minha mala e fui para lá. Mas antes de sair de casa, comuniquei aos meus pais. E uma frase que meu pai me falou, me marcou. E eu sempre levo para frente nas minhas palestras e conversas. Ele falou: “eu não gostaria que você largasse os estudos, mas o mais importante disso tudo é fazer o que você ama. E principalmente, um exemplo básico, se você for vendedor pipoca, venda a sua melhor pipoca. Seja diferenciado como o melhor pipoqueiro”. Isso ficou na minha cabeça. Por vários anos eu fiquei pensando: “Poxa, qual é a pipoca?” Existem várias formas de vender pipoca: o carrinho, o ponto, estudar sobre a melhor pipoca, o melhor milho, a melhor hora de vender, vender na rua, vender online, vender ponto-entrega, e é isso que estamos vivendo no mundo de hoje com o coronavírus, as pessoas estão se reinventando, estão melhorando os seus serviços.
Trabalho em equipe
Antigamente, você via histórias de atletas que foram campeões com a mochila nas costas, sozinhos vagando no mundo. Um dos exemplos é o Guga, junto com o Larri Passos. Foi pra Roland-Garros a primeira vez e acabou ganhando do jeito dele, sozinho. Hoje em dia, um atleta ou um ser humano sozinho dificilmente vai chegar ao topo mais alto do pódio. Desde 2010, quando eu comecei a trabalhar com o Emanuel, uma das coisas mais importantes que aprendi foi a trabalhar com uma equipe multidisciplinar. Hoje nossa equipe é formada por 15 profissionais. E por incrível que pareça ela é mais parecida com uma empresa do que possa imaginar. Ela tem um gestor de equipe, que resolve as questões extra-quadra. Tem o técnico, que é o CEO, é ele que faz toda a linha de trabalho de treinamento, ao lado do assistente técnico, do preparador físico, do fisiologista, do nutricionista e do estatístico. Abaixo deles temos os braceros. Ao lado deles, eu tenho um empresário, um assessor de imprensa e um psicólogo. É realmente muito parecido com o universo de uma empresa. A gente vai se modificando da mesma forma que uma empresa, a partir do momento que os objetivos vão sendo atingidos.
Educação x esporte
Nós sediamos os jogos Olímpicos de 2016 e não aprendemos quase nada. Qual legado nós deixamos? Um Centro Olímpico fechado. É de cortar o coração como atleta profissional de alto rendimento ler uma matéria em qualquer plataforma e ver que as escolas estão fechadas, mas os shoppings estão abertos 24h. Então, um país que quer ser de primeiro mundo, não pode pensar só no entretenimento ou no shopping, e esquecer da educação. Não existe desenvolvimento sem educação. Todos os países que jogamos na Europa, que fomos recebidos nas Américas, desenvolvidos, todos os atletas estudam e são formados. Menos o brasileiro. O brasileiro tem que tomar a decisão com 17 anos se vai ser atleta profissional ou estudar. Nos Estados Unidos, primeiro tem que ser formado, depois entram no esporte, aos 25 anos. Como é difícil, no Brasil, ter um programa universitário ou escolar para esses atletas diferenciados, que às vezes não tem condição financeira, de conseguir uma bolsa de estudo. Nos EUA os pais pagam as escolinhas particulares para os filhos aprenderem a jogar Vôlei e depois conseguir uma bolsa de estudos. A Educação tá na frente o tempo todo, faz parte do desenvolvimento de um povo, de um país de primeiro mundo.